A pobre arte apologética

Algum tempo atrás, Charles Fernando, nesse texto, alertou sobre o baixo nível daqueles que se dizem apologetas. De fato, os exemplos de pouca qualidade excedem a normalidade. Dia desses estava relendo, abismado, o livro do Pr. Raimundo de Oliveira, “Seitas e Heresias“. A cada lida, uma nova surpresa. No final,  resta a sensação de que o livro é exageradamente superficial.

Seitas e heresiasPor exemplo: o autor identifica, vejam só, o neo-ortodoxo K. Barth como teólogo liberal. Afirma que um terço da humanidade é composta por marxistas (sim, para o pastor, marxismo é seita, confundindo idéias político-econômicas com teologia. A Guerra Fria se foi, mas para “Seitas e Heresias” a relação de forças no panorama geopolítico mundial continua tal qual a trinta anos atrás). Isso quer dizer que há mais de dois bilhões de pessoas que conhecem, a fundo, os fundamentos das idéias de Karl Marx (sic!).

Fundamentos que, é bom que se diga, Oliveira desconhece solenemente. Sua conceituação de dialética é pobre. Vejam: “Em tudo, há sempre duas forças que se opõem: a força principal chama-se tese, e a secundária que reage chama-se antítese. Na luta entre as duas, a tese prevalece e vence a antítese.” (p. 171-172) Terrível, né?

O pressuposto inicial para uma obra apologética seria o minucioso conhecimento daquilo a que se propõe refutar. A bibliografia apresentada por “Seitas e Heresias” é um primor: não há uma obra sequer de Marx. A refutação dessa “seita” é feita sem ler o que ela definitivamente produziu de idéias.

SupercrentesDaí a gente tira a seriedade do estudo. Paulo Romeiro, em “Super Crentes“, propôs refutar teses da confissão postiva. Identificou, para isso, Kenneth Hagin como um dos principais nomes do movimento. Para refutá-lo, usou 29 livros escritos por Hagin. Citações abundam ao longo do texto identificando a fonte, coisa que Oliveira não faz em muitas situações.

Exemplos de Romeiro são poucos, enquanto sobram raimundos-de-oliveira por aí. Permanecendo esse cenário, a arte da boa apologética continuará cada vez mais pobre, rasteira e superficial.

3 comentários sobre “A pobre arte apologética

  1. Cabe lembrar que a apologética evangélica está ruim, mas a católica até que se salva… montfort, veritatis etc… a apologética católica é forte e bem instruída…

    Aliás, comecei a ficar cético quando vi que os católicos destruiam as mentiras da maioria dos sites protestantes… se existe algo que precisa de uma reconstrução, uma reforma é a apologética brasileira, aliás a teologia brasileira protestante anda mal, talvez por não seguir a tradição, não ter conhecimento pleno do protestantismo, apenas o irracional fundamentalismo que joga neo-ortodoxos e liberais no mesmo saco e faz da bíblia um Alcorão…

    É duro saber que temos razão quanto à exegese bíblica diante dos católicos etc…, mas quando as pessoas começam a fazer apologética fora da bíblia vira um fracasso e uma vergonha… há algumas pérolas, mas são raras…

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