Categoria: Literatura Cristã

Faces femininas do movimento pentecostal ítalo-americano

Muitas irmãs contribuíram na bonita obra que o Senhor fez no meio dos ítalo-americanos (EUA, início do século XX). No entanto, pouca lembrança se faz aos seus nomes*. Lucia Menna, por exemplo, auxiliou na evangelização na Itália e na Argentina, e pouquíssimas informações se têm dela. Abaixo, breve resumo biográfico de duas dessas irmãs que militaram na Obra de Deus no meio do povo de origem italiana.

Rosina Balzano Francescon
Exerceu por vários anos o ministério de diaconisa na First Italian Presbiterian Church de Chicago. Depois, foi responsável pela condução da escola dominical na Asamblea Cristiana de Chicago. Era também evangelista: várias famílias de Los Angeles tiveram o testemunho do evangelho por seu intermédio. Exerceu também o cargo de diaconisa.

Dessa responsabilidade, Rosina esclarecia que “costumava fazer o trabalho missionário geral, visitar e assistir os enfermos, orando com eles, ensinando as mulheres. Tivemos reuniões de mães… durante as suas ausências [de Francescon], eu presidia e tomava conta delas” (Yuasa, 2001:86).

Michele Palma, um dos anciães de Syracuse, escreveu em 1953, quando do falecimento da ir. Rosina, que ela havia recebido especial porção da fé e do conhecimento das escrituras. Cumpria importante papel de “conselheira para muitos irmãos e irmãs nos seus problemas e dificuldades. Em uma palavra, ela era uma zelosa e fervorosa serva do Senhor, e muitas almas foram abençoadas por seu ministério” (Michele Palma, citado por Yuasa, op. cit.).

Catherine Gardella Palma
Outra irmã que muito contribuiu para a obra de Deus entre os primitivos irmãos do movimento pentecostal ítalo-americano foi Catherine Palma. Seu pai (Paolo Gardella) havia sido ancião na Igreja Presbiteriana Italiana, juntamente com Francescon. Como Rosina, foi também diaconisa na igreja em Chicago. Na ocasião da 1ª Convenção das Igrejas Cristãs Italianas (1927), desempenhou a função de Secretária Geral, cargo ocupado por quinze anos consecutivos (Toppi, 1998).

Casou-se com Michele Palma, que seria ancião da igreja em Syracuse, e responsável, juntamente com Massimiliano Tosetto e Luigi Terragnoli, pelo desenvolvimento dos hinários da Congregação Cristã. Nessa oportunidade, pode também contribuir com algumas letras e músicas para esses hinários. Foi, acima de tudo, “uma crente de grande espiritualidade, fiel colaboradora no ministério cristão [de seu marido]” (ADI-Napoli).

Evidentemente, a liberdade para colaboração de irmãs na igreja era, ao que parece, maior do que vemos hoje. E assim sucedia também aqui no Brasil. Veja, por exemplo, um tópico da Convenção das Igrejas da Congregação Cristã do Brasil (1936), no original**:

Fontes:

Impresso:

TOPPI, Francesco. “Massimiliano Tosetto”. Roma: ADI-Media, 1998.

YUASA, Key. “Louis Francescon: A Theological Biography 1866 – 1964”. Genebra, 2001.

Meio eletrônico:

Blog “O Colecionador”: http://elielsoaresbatista.blogspot.com

Site da Assemblée di Dio – Napoli: http://www.adinapoli.it

Notas

* Exceção é o livro “Madre in Israele”, escrito por Francesco Toppi, que apresenta várias biografias das primitivas irmãs do movimento pentecostal ítalo americano, especialmente aquelas que ocuparam o cargo de diaconisa.

** A imagem que ilustra esse texto foi obtida no blog “O Colecionador”, que apresenta hinários, relatórios e outros documentos antigos que enchem os olhos de qualquer pessoa que seja interessada na história da Congregação Cristã. Caso se interesse pelo tema, visite-o.

Francescon e a organização da Igreja

A Carta Circular que segue foi escrita por Luigi Francescon em 1939. Faz referência às duas mais recentes questões que afligiram os cristãos reunidos em Chicago na Christian Assembly/Christian Congregation daqueles tempos: a Validade do Concílio de Jerusalém para os dias de hoje (1926/1927) e a organização da igreja em uma denominação (1938). A tradução é livre, mas procurei preservar integralmente  o sentido original. Essa  carta está anexada a tese de Key Yuasa (2001).

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Igreja Apostólica Cristã da América

A Apostolic Christian Church of America (Igreja Apostólica Cristã da América) é uma denominação organizada em meados do século XIX, com origens na Igreja Batista Evangélica Suiça, pastoreada por Samuel Froehlich.

A primeira igreja em solo americano foi organizada em Croghan, uma pequena cidade do interior do estado de Nova Iorque, em 1847. Até 1917 a denominação era conhecida como Igreja Evangélica Batista. Atualmente, conta com quase cem congregações nos Estados Unidos, concentradas principalmente na região centro-nordeste.Há ainda igrejas afiliadas no Japão (2), Portugal (2) e México (4).

Igreja Apostólica Cristã da América em Forrest. Fonte da imagem: www.forrestachchurch.org.

É impressionante a semelhança entre essa igreja e a Congregação Cristã. A ortodoxia doutrinária é semelhante (bíblia como Palavra de Deus, nascimento virginal de Jesus Cristo, Cristo como verdadeiro homem e verdadeiro Deus, salvação somente pela fé em Jesus Cristo, etc.) e as práticas litúrgicas são praticamente as mesmas. Primeiro, então, a doutrina oficial publicada no site www.apostolichristian.org, em tradução livre; depois, breve apresentação das práticas litúrgicas.

Doutrina

1. A Bíblia é a Palavra de Deus, inspirada e infalível dada por Ele ao homem. O Novo Testamento serve como base da doutrina cristã para a Igreja.

2. Há um só Deus eterno, o Criador de todas as coisas, que subsiste em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

3. Jesus Cristo, o Filho de Deus, foi gerado pelo Espírito Santo e nascido da Virgem Maria. Ele viveu uma vida sem pecado.

4. O homem foi criado à imagem de Deus, mas o pecado o separou de Deus. Todos que atingirem a idade da razão são responsáveis ​​por seus atos pecaminosos.

5. Jesus Cristo, ao dar Sua vida na cruz do Calvário, derramando Seu sangue precisoso, tornou-se nosso Remidor. Ele foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia para nossa justificação.

6. Ambos os salvos e os perdidos serão ressuscitados: os salvos para a vida eterna e os perdidos para a danação eterna.

7. A fé na obra redentora de Cristo no Calvário resulta em arrependimento. É o começo, portanto, de uma vida cristã autêntica. Os frutos do arrependimento são um coração contrito e humilhado, a oração, a confissão a Deus na presença do homem, abandono de todos os pecados, e um espírito de perdão.

Igreja Apostólica Crista da América em Fairbury, Illinois. Fonte da imagem: http://fairburyacchurch.org/.

8. Uma verdadeira conversão é evidenciada por um renascimento espiritual, a restauração da paz entre Deus e o homem, o fruto da ação do Espírito e da obediência à Palavra de Deus.

9. Na sequência de um testemunho de fé e de conversão, é realizado um pacto de fidelidade a Deus. Assim, é feito o batismo de fé (por imersão), administrado em nome do Pai, Filho e Espírito Santo.

10. O crente está selado com o Espírito Santo da promessa. Esta é reconhecida e simbolizada em uma oração de consagração (o batismo seguinte) pela imposição das mãos do presbítero. Como um membro do corpo de Cristo, o crente experimenta crescimento espiritual e edificação dentro da igreja.

11. A Igreja do Novo Testamento aparece em dois aspectos distintos:

A. Uma irmandade de homens e mulheres convertidos (conhecidos como Irmãos e Irmãs), com Cristo como Cabeça, funcionando de acordo com os ensinamentos do Novo Testamento.

B. A Igreja gloriosa, a noiva de Cristo, incluindo todos os santos de todas as idades, para se manifestar plenamente no retorno de Jesus Cristo.

12. Irmãos que estão sãos na fé, doutrina e exemplo, servem como anciães, ministros e professores. Eles são escolhidos a partir da congregação para a promoção do Evangelho da graça de Deus para todas as pessoas.

13. O pão e o fruto da videira, na Sagrada Comunhão, simbolizam o corpo e o sangue de Cristo. É servida a ceia em uma comunhão fechada (apenas para os membros da igreja local) após o auto-exame realizado pelos membros.

14. O ósculo santo, um beijo da caridade, é praticada entre os irmãos como um símbolo do amor de um pelo outro.

15. Irmãs usam um véu cobrindo a cabeça durante a oração e adoração, como um símbolo de sua submissão, de acordo com a ordem da Criação de Deus.

16. Os crentes vivem separados, santificados e vidas não estão conformados com o mundo. A disciplina de membros que pecaram é administrada para seu bem-estar espiritual e para a preservação da igreja.

17. As autoridades constituídas são respeitadas e obedecidas. Participam do exército com status de não-combatentes. Os juramentos não são feitos, mas a verdade é afirmada.

18. O casamento é uma união vitalícia ordenado por Deus, na qual um homem e uma mulher, se unem em uma só fé e comunhão ao Senhor pelo Santo Matrimónio.

19. Embora o dom da vida eterna é uma posse presente de cada crente verdadeiro, é possível para um crente, de sua própria vontade, abandonar sua fé, voltar ao pecado, e, consequentemente, perder a vida eterna com Cristo.

20. Construída no nome do Senhor Jesus Cristo, a Igreja é um corpo intimamente unido de crentes. Cada membro partilha das alegrias e tristezas do outro no verdadeiro espírito de fraternidade. A igreja pretende crescer no amor de Cristo e da compreensão da Sua Palavra. A Igreja estende um gracioso convite a todos para que venham, e adorem em espírito e verdade.

Práticas litúrgicas

1. Dos ministros não são exigidos nenhuma formação teológica especial, não sendo, portanto, graduados em escolas ou centros de treinamento bíblico.

2. Os serviços são dirigidos por um ancião, que não recebe nenhuma compensação financeira por isso.

3. Os sermões não são preparados previamente. Antes dos serviços, o ministro ora a Deus solicitando inspiração para exortação do texto bíblico a ser ministrado.

4. O canto é congregacional: todos os membros entoam os hinos. Não há apresentações individuais.

5. Nos templos, a oração é feita de joelho. Simboliza, assim dizem, o curvar do coração ante nosso Poderoso e Majestoso Senhor.

6. As mulheres se cobrem com véus nos cultos de adoração, em conformidade com I Cor. 11.

7. Homens e mulheres sentam-se separadamente nos templos. Assegura, segundo eles, maior comodidade aos crentes solteiros e viúvos essa distinção por gênero. No entanto, em ocasiões especiais, como funerais e casamentos, essa regra pode ser relaxada.

8. A primeira oração do serviço de culto é feita pelo ancião; a última é aberta aos membros.

9. São realizados dois cultos aos domingos (manhã e tarde). No intervalo, é oferecido um almoço para todos os participantes.

10. Não existe contribuição financeira obrigatória. Quando há necessidade, a mesma é comunicada do púlpito e os membros ofertam, voluntariamente, o valor que sentir tocado por Deus em caixas localizadas nos corredores da igreja.

11. Praticam o ósculo santo (irmãos com irmãos e irmãs com irmãs) como simbolo do amor fraternal em Cristo Jesus.

12. Recomendam a adoção de vestuário modesto, sem influências da moda sensual e ostensiva contemporânea.

13. Não é recomendado o uso de jóias e maquiagem para as mulheres.

14. Homens devem manter seus cabelos curtos; diferentemente das mulheres, que devem manter seus cabelos longos.

15. Há algumas restrições quanto a dança, música secular, televisão, cinema, teatro, alcool e fumo.

16. Antes do culto propriamente dito, costuma-se ter, na igreja, um momento musical, variando de 15 a 30 minutos, dependendo da congregação local.

17. Com exceção do ramo Nazareno (vide dissidências abaixo), todas as igrejas não estimulam o uso de barba pelos irmãos.

18. Costuma-se “levar saudação” quando for frequentar outra igreja. Essa saudação pode ser individual ou coletiva.

19. O casamento com membros de outras denominações não é recomendado.

20. Os membros não são encorajados a visitar outras denominações.

Dissidências

Igreja Apostólica Cristã – Nazarenos (Apostolic Christian Church – Nazarean)

Desde sua pioneira organização, é possível identificar quatro principais dissidências. A principal delas teve origem na primeira década do século XX e, depois de muitas discussões, deu origem a Igreja Apostólica Cristã – Nazarenos.

No centro da disputa estava o costume de usar barba/bigodes. Muitos europeus que migraram para os EUA mantinham esse costume – permitido pela igreja européia e não estimulado pela igreja americana.

Um breve parentesis: essa denominação manteve os laços com as igrejas européias e, por essa razão, há quem diz que a relação de dissidência é inversa, isto é, é a ACCA que se separou da ACC-N, sendo essa última a igreja-mãe. Todavia, o fato da maioria das igrejas manter-se sob a placa ACCA praticamente colocou a ACC-N como dissidente, e é esse o entedimento do presente texto.

Hoje, a Igreja Apostólica Cristã – Nazarenos possui mais de cinquenta congregações nos Estados Unidos, e algumas igrejas em Portugal (16) e Argentina (14). Financia missionários no Brasil em Guarapuava (PR), Macapá (AP), Pombos (PE), Nepomuceno (MG), Castanhal (PA), Santarem (PA), Altamira (PA) e Parintins (AM). As Igrejas da Paz brasileiras tem origem no trabalho missionário de um ministro desse grupo.

Apresentação do Coral. Igreja Apostólica Cristã – Nazarenos de Woodcliff Lake, New Jersey. Fonte da imagem: www.wclacc.org

Comparada com o maior ramo da Apostolic Christian Church (a Apostolic Christian Church of America), a Apostolic Christian Church – Nazarean possui maior liberalidade nos costumes. Principalmente nas igrejas do oeste americano, não é tão incomum uma irmã frequentar a praia ou usar calças, por exemplo. Práticas evangélicas comuns a outras denominações também passaram a ser adotadas, como formação teológica dos líderes, preparação de sermões e uso facultativo do véu. Em todo caso, a ACC-N possui um governo mais congregacionalista, o que permite diferenças entre as várias congregações do grupo. Portanto, não há uniformidade nesses costumes, possuindo as congregações locais relativa liberdade para deliberarem sobre esses assuntos.

Curiosamente, a denominação não faz tanta questão assim de se diferenciar nominalmente da Igreja Apostólica Cristã (vide foto da Igreja Cristã Apostólica de Seville, Ohio, em que exclui o Nazareno de sua identificação).

Our New Sign

Fonte da imagem: http://www.medinaacc.org/

Igreja Apostólica Cristã Alemã (The German Apostolic Christian Church)

Em 1932, anciães da igreja na Europa escreveram para a igreja americana listando práticas e tradições a serem seguidas pelas igrejas. Apenas uma pequena fração da igreja resolveu acatar o teor das cartas enviadas.

Dessa forma, cerca de oito a dez igrejas no meio oeste americano se organizaram na Igreja Apostólica Cristã Alemã. Conservaram, inclusive, a língua alemã. Para muitos historiadores, a língua estava no cerne da questão (Melton, J. Gordon. The Encyclopedia of American Religions: Vol 1).

Martin Steidinger, um dos anciães que liderou o movimento, dizia que a perda da lingua alemã levaria a perda da caridade e ao retorno as práticas mundanas. As primeiras igrejas a firmarem o movimento estavam localizadas em Sabetha, Kansas; Silverton e Portland, Oregon; e várias cidades de Illinois.

Atualmente, a denominação tem passado por um estado variando da estagnação a retração. Exemplo disso é a venda de um de seus templos, localizado em Peoria (Illinois), uma espaçosa e bela construção. Nessa mesma cidade ainda se encontra templos da ACC-N e da ACCA, demonstrando o impacto fragmentador que a divisão teve no seio da igreja nos Estados Unidos.

Caracterizam-se pelo rigor ascético, sendo muito conservadores tanto no estilo de vida quanto na forma de culto. Continuam a falar em alemão e as mulheres somente usam o cabelo em coque ou partido ao meio. Estima-se que hajam em torno de trezentos membros em todos os Estados Unidos, hoje.

A igreja mãe, para diferenciar da dissidente, se distinguiu pelo qualificativo “of America”, presente em seu nome até hoje.

Igreja Cristã Nazarena, ou Congregação Cristã Nazarena (Nazarene Christian Congregation ou Nazarene Christian Church)

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Nazarene Christian Congregation em Akron, Ohio. Fonte da imagem: Google Street View

É uma denominação de origem eslava, mais apropriadamente iugoslava. Fortemente perseguidos pelo governo comunista do Marechal Tito, muitos migraram para os Estados Unidos. Nos Estados Unidos existem poucas igrejas. A maior parte delas se concentram, ainda hoje, no que era a antiga Iugoslávia. Para maiores informações, consulte essa dissertação de mestrado: http://www.c3.hu/~bocs/teza.htm.

Igreja Cristã Apostólica (Christian Apostolic Church)

Formada em 1955, é uma dissidente da Igreja Apostólica Cristã Alemã. Não deve ser confundida com uma denominação homônima, pentecostal e unicista. Atualmente, apenas três igrejas compõem essa denominação. Possuem ensinamentos rígidos sobre divórcio, controle de natalidade e ensino superior.

Finalizando…

Como se pode ver, as semelhanças entre a Apostolic Christian Church e a Congregação Cristã são muitas. O fato de ambas situarem-se a parte da comunidade evangélica em geral trouxe, para as mesmas, rótulos de exclusivismo e sectarismo. No entanto, o credo doutrinário tanto de uma quanto de outra se harmoniza com o que costumeiramente se atribui a ortodoxia cristã.

Para melhor entender a igreja norte-americana, uma sugestão é acessar o site oficial da igreja (www.apostolicchristian.org), para a igreja principal, ou www.apostolicchristianfoundation.org, para a ramificação nazarena. Para aqueles que não se satisfazerem com as informações oficiais, uma dica é visitar o forum http://apostolicchristiandiscussion.yuku.com/forums. Lá, vários membros da igreja esclarecem sobre o funcionamento e práticas da igreja. Um site ligado ao movimento anabatista (Bible Views) oferece também informações sobre a ACC e pode ser conferido no link http://www.bibleviews.com/AC.html . Para quem gosta de fotos de igrejas, é só acessar esse álbum do Flick: http://www.flickr.com/groups/apostolicchristianchurches/ . Para informações gerais, consulte a página referente a igreja na wikipedia.

Centenário da Congregação Cristã

Oficialmente não houve nenhuma comemoração. Alguma lembrança sobre o jubileu aconteceu entre os membros, como, por exemplo, a criação do blog centenário da CCB.

Do ponto de vista acadêmico, os cem anos da Congregação Cristã no Brasil renderam alguns eventos e, agora, um recente artigo. Trata-se de Congregação Cristã no Brasil: da fundação ao centenário, a trajetória de uma igreja brasileira, de Yara Nogueira Monteiro, ex-professora da Universidade Metodista de São Paulo e atualmente pesquisadora no Instituto de Saúde (SP).

Contém alguns erros históricos (como, por exemplo, tratar Helen Carriere como irmã de Francescon, ou afirmar que Daniel Berg foi membro da Missão Pentecostal de W. Durham, ou, ainda, ignorar a complexa história do movimento pentecostal ítalo-americano quando do diagnóstico da pequena quantidade de igrejas da Congregação Cristã nos EUA e na Itália), mas não compromete o resultado final do trabalho.

Boa leitura.

Emilio Conde e o pentecostalismo

O “Pai da Imprensa Evangélica”: assim é saudado por muitos o profícuo escritor Emilio Conde. Salvo pela fé em Jesus Cristo, e o servindo em uma Congregação Cristã paulista, a sua mudança de residência para o Rio de Janeiro causou também sua transferência denominacional. Assim, passou a frequentar a Assembléia de Deus carioca, que soube bem aproveitar seu talento de escritor.

O contato de Conde com os líderes da Assembléia de Deus antecede, no entanto, sua própria transferência de denominação. A passagem de Gunnar Vingrem em São Paulo, e sua correspondente visita e pregação na Congregação Cristã de São Bernardo do Campo, é registrada por Conde como o momento em que conheceu o missionário sueco.

Dadas essas relações, era de se esperar que Conde tratasse a história do pentecostalismo com mais isenção e objetividade. Lendo um livro de sua autoria, “A história das Assembléias de Deus”, publicado em data incerta (a edição atualizada que tenho é de 2000; não contém, nessa versão, nenhuma informação a respeito de sua primeira edição), o que posso dizer, sinceramente, é que não tive boas impressões.

Embora há uma longa introdução para a edição atual, feita por Claudionor Correia de Andrade, que se esforça para ressaltar outras missões evangelísticas desde o “achamento” das terras brasileiras por Cabral, o livro possui um foco, apenas: historicizar as “Boas Novas”, utilizando única e exclusivamente a história das Assembléias de Deus em território nacional.

Ora, supondo que Conde já havia conhecido a mensagem pentecostal no meio dos ítalo-brasileiros, não é factualmente correto sugerir que a Obra de Deus chegou em São Paulo apenas em 1926, como faz textualmente no livro. O motivo é muito simples: Conde foi testemunha ocular de que isso, na verdade, ocorreu bem antes. Se assim não admite, o faz servindo unicamente a interesses denominacionais, não ao Evangelho Pleno.

Não se pretende, no entanto, desmerecer o papel desempenhado por Conde no meio evangélico. Contudo, poderia ter contribuído para que aspectos secundários da fé não dividissem tão radicalmente as duas denominações. Assim, pelo arrazoado apresentado, Conde apenas pôs mais lenha na fogueira, fomentando o orgulho denominacional, na medida em que ignorou completamente a boa obra realizada entre os descendentes de italianos em São Paulo, no início do século XX.

Estudos acadêmicos sobre a CCB

Do curso de Mestrado e Doutorado em Ciências da Religião da Universidade Metodista (UMESP) saiu, recentemente, duas pesquisas relacionadas a Congregação Cristã. Ambas foram orientadas pelo prof. Dario Paulo Barrera Rivera.

A primeira delas, uma dissertação de mestrado, foi escrita por Williani de Almeida Carvalho, intitulada “Práticas religiosas, corpo e estilos de vida”. É um estudo comparativo entre três denominações religiosas (Congregação Cristã, Igreja Renascer em Cristo e Igreja Presbiteriana), tendo por referência o tema declarado em seu título. Como objeto de estudo, três congregações (uma de cada denominação) localizadas no bairro Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo.

A segunda, uma tese de doutorado, foi elaborada por Norbert H. C. Foerster, que já publicou alguns artigos que abordam, direta ou indiretamente, a Congregação Cristã. Nessa pesquisa, intitulada “A Congregação Cristã numa área de alta vunerabilidade social no ABC paulista”, Foerster investiga a tradição e a transmissão religiosa na Congregação Cristã. Os anexos da tese são um atrativo a parte. Várias entrevistas apresentam (e representam), feliz ou infelizmente, a CCB.

Para acesso, é necessário se cadastrar no site Domínio Público. Boa leitura.

Upgrade na Escola, atualização nas RJM

Para cada tempo, uma escola específica. Esse é um lema que, de tão óbvia que é nos circuitos educacionais, tornou-se jargão. É fazendo uso dele que se chega, hoje, a conclusão de que a escola não pode ensinar a criança tal qual fazia há setenta anos.

Escola de ontem, escola de hoje

Mas como, enfim, era a escola setenta anos atrás? Bem, não precisa procurar nenhum manual de história da educação. Basta um dedo de prosa com um avô, ou qualquer outro idoso. Com poucos livros disponíveis, a escola era o local-fonte de informações. Por isso, era necessário que aquelas informações veiculadas ficassem impressas de forma duradoura na mente. O recurso para isso? Mil e uma coisas para decorar.

Claro, um pouco de memória no processo educativo é fundamental. Mas o que a escola tradicional fez foi fundamentar toda a aprendizagem em estratégias de memorização, muitas delas destituídas de significado. Decorava-se muita coisa, mas, claramente, poucas delas faziam sentido. Decorava-se para a prova, tão somente. Os livros didáticos, inclusive, facilitavam: com poucas imagens, eram estruturados em pontos, exatamente para que o professor pudesse ‘tomá-los’, isto é, para que os pobres alunos pudessem expelir, palavra por palavra, tudo aquilo que leu.

Essa é uma herança perversa deixada por essa escola, dita tradicional. Não há mais necessidade de decorar toda informação constante nos programas curriculares da escola. Bilhões de informações estão distantes do indivíduo por um clique. E com tanta informação, tornou-se inviável, em nosso cotidiano, registrá-la com precisão nos arquivos cerebrais.

O que a escola e a sociedade atuais apresentam como demanda urgente? Que as coisas aprendidas tenham significado para o aprendiz, para que, a partir deles, represente uma mudança em seu cotidiano, no presente e em um futuro próximo. Não dá mais para entender o processo de aprendizagem como algo descartável, válido apenas para uma prova – seja ela um simples teste ou um vestibular.

Por outro lado, não se pode pensar, no mundo atual, em um professor que ensine tal qual fazia seu companheiro de ofício do início do século XX, isto é, sem diálogo, assumindo autoritariamente o centro da aprendizagem. O professor do século XXI deve, sobretudo, estar sintonizado com o tempo e a cultura da criançada. Assim não sendo, podemos ter certeza que, por mais bem intencionado seja o professor, a mensagem sairá sempre em ondas AM para meninos que recebem apenas em FM.

Mas, meu senhor, onde queres chegar?

As reuniões de jovens e menores (RJM)

Ora, sabemos que o modelo de escola para crianças e jovens da Congregação foi gestado em um período onde “decorar” era a palavra de ordem. Alvorecia, lá pelos idos dos anos 1940, essa pedagogia. É esse contexto que possibilita compreender a formulação dos “Recitativos” como uma estratégia de ensino e de aprendizagem da Palavra de Deus.

Porque hoje os recitativos podem não ser a melhor opção?

Ora, os exemplos da escola tradicional, incrustrada no século XXI, dão mostra de que tal estratégia não é mais produtiva. Isto é, um aluno excelente repetidor pode não ser um excelente aluno pensante. Não estimulando firmemente seu raciocínio, dificilmente conseguirá VIVER, na prática, todos os ensinamentos dispostos.

Não é necessário mais decorar a Palavra de Deus. Existem bíblias de diversos tamanhos, de modo que podemos sair por aí com uma no bolso, ao alcance em qualquer eventualidade. É preciso, no entanto, vivê-la em sua plenitude. É preciso estudá-la, contextualizá-la para os difíceis momentos atuais. É preciso ter amor a Palavra de Deus.

E o que tem feito o ‘recitativo’? Gerado uma preocupação com a sequência das palavras do verso, ditas com boa pronúncia, sem titubeios. Isso na melhor das hipóteses. O que mais se tem visto, atualmente, são rapazes e moças lendo o versículo escrito no verso do recitativo. Isso tem fermentado, efetivamente, a garotada para o significado daquilo que é dito? Não, não.

De outro lado, o professor

Ah, o professor. Muitos, como na escola antiga, não vê com bons olhos o franco diálogo, essa novidade da escola moderna. Eu disse franco diálogo, onde, gentilmente, o mestre se coloca simultaneamente como aprendiz e ensinante. Estimula a curiosidade e se dispõe a resolver as dúvidas, ampliando o amor da garotada à Palavra. Aceita críticas e, inclusive, as estimula, porque sabe que não é perfeito e tem desejo de melhorar cada dia. Adequa sua mensagem aos jovens, isto é, comunicam-se eficientemente. É longânime, misericordioso, manso e amoroso. Ao fraco, estende a mão; ao doente espiritual, oferece remédio correspondente.

Substituir… pelo que?

Se chegamos a conclusão de que os recitativos podem ser substituídos por alguma outra estratégia, ou, em grau de mudança menor, ter compartilhado seu objetivo com outras metodologias de ensino, é interessante ressaltá-las.

Primeiramente, é de bom tom ressaltar a interessante novidade que tem surgido nos últimos tempos, em se tratando de Reunião de Jovens e Menores. A referência é, especificamente, à abertura ao estudo bíblico em um domingo por mês, no qual o recitativo é substituído por um bate papo entre o cooperador de jovens e os meninos(as) e moços(as).

No entanto, tal medida ainda tem mostrado ser insuficiente, não obstante a boa vontade de muitos que tentam implementá-la. Em alguns locais, os recitativos não são substituídos, inexistindo o domingo especial para a conversa sobre temas bíblicos. Em outros, os temas são mal dirigidos: há um professor que pergunta (geralmente sobre algum detalhe secundário do texto em questão ou alguma generalidade que evita tratar do tema central do texto), em expectativa de que ouça frases literalmente organizadas.

Não adianta tentar mudar a escola se não se muda os métodos de ensino.

Mas, enfim, sobre a natureza das mudanças: é necessário um mínimo de sistematização na ‘Santa Escola’, isto é, uma uniformização, para que os objetivos sejam minimamente garantidos. Uma das formas para se conseguir isso é a preparação de um material único de apoio aos ministros. Trataria, então, de auxiliar os ministros a exporem a doutrina bíblica em uma linguagem adequada para os jovens (preferencialmente organizados por faixas etárias). Para tanto, seria necessário usar dos momentos de congraçamento ministerial (as reuniões) para apresentar e discutir as estratégias. O ministro deve estar preparado para essa nova estratégia – o que, a meu ver, tem sido um dos maiores problemas das novidades implantadas nos últimos anos.

O que, enfim, representa essas mudanças, também, é o retorno da Congregação a prática primitiva das escolas bíblicas, no formato assumido pela Asamblea Cristiana di Chicago, em sequência pela Congregazioni Cristiana di Chicago (hoje Christian Congregation Church). É, enfim, um acerto de contas com o passado – o pioneiro, não o desses últimos cinquenta anos novidadeiros.

Igreja do Véu: igreja ou heresia? [5 de 5]

Chegamos, finalmente, a parte derradeira dessa análise. Nela, gostaria de ressaltar algumas críticas pertinentes feitas a Congregação e alguns erros que, de tão crassos – dada a condição de frequentador por mais de meio século – não há outra possibilidade de entendê-los como produtos da mais genuína má-fé.  Comecemos, pois, a refletir sobre esse aspecto profundamente negativo do livro, uma vez que não pode ser creditado ao pastor o desconhecimento das práticas ccbianas. Para não estender muito – recurso abusado nos textos anteriores – sublinharei objetivamente alguns pontos. Vamos a eles:

I. Má-fé

1. “Em 1994, estive em Porto Alegre, e visitei a Congregação ali. Pude notar que, apesar de imensa, não tinha mais de 36 pessoas, e que a oferta tirada ali era inferior aos gastos que eu tive com o táxi para chegar àquela igreja” (p. 16): bem, a má-fé não está, exatamente, na informação sobre a membresia da central de Porto Alegre (embora não sei se esse dado procede). O que ‘pega’ é a afirmação sobre o valor das ofertas do dia. Não se usa dar publicidade as ‘ofertas do dia’, à moda da divulgação da renda de um jogo de futebol – sempre divulgada no final da partida. Quer dizer que os responsáveis pela contabilidade da igreja confidenciariam os dados a um enigmático e perguntador visitante? Acredito que não, isso não é verdade.

2. “Não é permitido de maneira alguma que pessoas com conhecimento cultural elevado, teólogos, etc. subam ao púlpito. Os anciãos alegam que sobre estes o Espírito Santo não tem espaço para se manifestar, e que Deus não opera na sabedoria, e sim na simplicidade. O apóstolo Paulo, além de ser um estudioso da Palavra, incentivava a todos a conhecerem a Plenitude das Escrituras” (p. 21): ora, fosse essa afirmação verdadeira, não haveria, aqui na minha cidade, um ancião juiz e um cooperador policial civil, bacharel em direito. Talvez pr. Amaral esteja fazendo referência especificamente à Teologia; mas aí há um erro crasso no exemplo utilizado. Embora Paulo fosse um homem refinado culturalmente, não se tem nenhum indício de que ele organizou ou incentivou seminários teológicos. Não estou questionando os seminários, vejam bem. O que há aí – a respeito do ministério paulino – é uma constatação, sem nenhuma valoração.

3. “Eles dizem também que devem se ater apenas aos 4 evangelhos pois nele estão as palavras ditas por Jesus. Não aceitam toda a Bíblia como inspirada por Deus. Você dificilmente verá um membro desta seita pregando o evangelho” (p. 28): poderia encerrar esse comentário sublinhando a flagrante contradição entre as duas primeiras frases e a última. Ora, como podem ter como válido apenas os evangelhos e, ao mesmo tempo, não se ver nenhum ccbiano pregando o evangelho? A contradição é óbvia por demais. Mas avancemos. O erro grosseiro ainda consegue ser pior. Segundo esse escrito, a Congregação não tem a Bíblia como regra de fé, restringido-se apenas aos quatro primeiros livros do Novo Testamento. Talvez esse discurso tenha algum efeito em quem jamais visitou uma igreja da Congregação. Poderia, após essa conclusão, sair por aí divulgando uma… MENTIRA. A ele, a recomendação de visitar uma igreja da Congregação para ouvir a leitura e pregação da Palavra de Deus, podendo, nessa ocasião, receber mensagens bíblicas retiradas de algum lugar entre o capítulo 1 de Gênesis ao vigésimo de Apocalipse.

4. “Os membros da Congregação Cristã não estão nem um pouco preocupados com o testemunho que dão. Não têm vida de santidade e consagração diante de Deus, pois não lêem a Palavra” (p. 35). Sem testemunho, sem santidade, sem ler a Palavra de Deus. É esse o conceito que o Pastor Amaral tem de nós, irmãos em Cristo. Sem mais.

5. “A verdade é que o uso do véu na Congregação Cristã do Brasil serve mais para trazer disputa entre as mulheres que ali congregam, pois usam o véu simplesmente como um adereço e enfeite. Usam tecidos caros e trabalhados, bem finos, quase transparentes, muito bem bordados e muitas vezes até com pedrarias caras” (p 41). Véus com pedrarias caras servindo de competição entre as mulheres da Congregação Cristã. Carece algum comentário?

6. “Certa vez fui a uma igreja da Congregação Cristã, e além de ter portas separando homens e mulheres, havia um cordão de isolamento dentro da igreja. Para mim, aquilo soou como algo humilhante, nunca havia visto algo parecido, dando uma impressão de ser um ambiente duvidoso e de risco em se tratando de questões morais. Esse acontecimento foi para mim chocante, mas infelizmente verdadeiro. Sendo uma das razões que me levou sair desta igreja” (p. 44). Então, vejamos: o autor descreve uma visita a uma congregação – que não sabemos em qual localidade – em que havia um cordão de isolamento supostamente para inibir comportamentos amorais? Bem, não posso afirmar que isso aí não existe; o que posso dizer é que já assisti a cultos em centenas de templos da Congregação por mais de quatro estados (Goiás, São Paulo, DF, Minas Gerais) e nunca – eu disse NUNCA – vi coisas semelhantes.

7. “É lamentável essa contradição: deixam de comemorar o nascimento do Senhor, mesmo que seja em 25 de dezembro e comemoram o dia da circuncisão e da consagração oito dias após o nascimento de seus filhos. Parecem que são como os adventistas do sétimo dia, guardando algumas tradições do Antigo Testamento abandonando outras“. Os cinquenta e quatro anos de vivência na Congregação, ao que parece, não surtiram muito conhecimento a respeito da Congregação. Ou o que dizer de alguém que afirma que, na Congregação, se comemora o ‘dia da circuncisão’? Terrível.

8. “Outro absurdo nessa seita é que nos cultos, quem está em observação ou em pecado, fica sentado separado dos demais membros e com o objetivo de serem conhecidos pela igreja. E ficará lá, até vencer os dias de sua culpa” (p. 118). Bem, absurdo é dizer uma coisa dessas. Novamente: para quem diz que passou tanto tempo na Congregação, um embuste desse tamanho pega mal, muito mal. Não há esse tal ‘banco dos pecadores’. E nem no que há de mais questionável nos ‘ensinamentos’ da Congregação – o ‘pecado de morte’ (sic) – o pastor em epígrafe acerta. Ora, quer dizer que se alguém peca – e esse termo é muito usual para o adultério; para os outros ‘pecadinhos’ temos o constrangedor eufemismo das ‘faltas’, ‘fraquezas’ e correlatas – ele ficará identificado em um banco esperando cumprir seus dias de disciplina determinados? Se sim, o pastor Amaral deveria mudar o título do seu livro, já que ele pode estar falando de qualquer outra denominação, menos a CCB.

II. Críticas relevantes

Nessa seção, aproveito para destacar algumas críticas salutares à Congregação. Ao contrário do que antes fazia – i.e., citava trechos diretamente – farei opção aqui por uma análise de conjunto da obra. Isso porque tais críticas estão em vários trechos do livro. O que se tem abaixo, então, é a interpretação que faço dessas críticas.

1. O exclusivismo: ainda hoje muitos irmãos se auto-reconhecem como os únicos cristãos verdadeiros. Falta um ensino contundente nessa parte. Não é suficiente dizer que não podemos criticar outras denominações evangélicas em nossos cultos. Isso é pouco. Devemos ser instruídos – explicitamente – que nossa denominação é uma ramificação da obra de Deus, conforme fomos ensinados desde o princípio da Congregação aqui no Brasil. O que nos diferencia das demais denominações co-irmãs são aspectos secundários da fé (impotentes para alterar o status de salvação), dentro da liberdade cristã que hoje gozamos.

2. Eleição para administração: aos olhos do escriturário de qualquer cartório que recebe a documentação a respeito de nossas Assembléias Gerais Ordinárias, as eleições para os cargos administrativos da igreja são diretas. Não é assim, porém, que as coisas ocorrem. Concorre chapa única, que é aclamada pelos participantes da Assembléia. Há inclusive orientações oficiais para a permanência ininterrupta dos participantes da Administração. Isso poderia tranquilamente ser melhorado, sem nenhum prejuízo ao tradicional cotidiano da CCB.

3. Crítica a circular – Caso do ex-ancião José Valério: o pastor Amaral está certo quando critica a circular. Embora seja clara em excluir o ancião, os motivos pelos quais essa medida se tornou necessária não são expostos. Não há esforço em explicar e refutar, biblicamente, os ensinamentos do ex-ancião.

4. Prática do “pedir palavra”: se quero casar com fulana, peço palavra. Se quero comprar um carro, peço palavra. Se quero fazer aquela viagem que tanto desejei, peço palavra. E o ‘pedir palavra’ é esperar que o pregador, na exortação da Palavra, mencione a minha causa e dê uma direção a ela. Retornamos, assim, aos velhos oráculos da antiguidade. Isso não está certo. Lutero, já no século XVI, muito lutou para dar-nos a liberdade de examinar, livremente, a Palavra de Deus e dela retirar os fundamentos para nossa vida. Retirou, de uma só vez, a dependência dos leigos em relação ao clero. Não retornemos aos velhos rudimentos.

5. Usos e costumes contendo valor soteriológico: é contraditório escrever sobre isso, porque nossa doutrina é clara: “Nós cremos que a regeneração, ou o novo nascimento, só se recebe pela fé em Jesus Cristo, que pelos nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação. Os que estão em Cristo Jesus são novas criaturas. Jesus Cristo, para nós, foi feito por Deus sabedoria, justiça, santificação e redenção. (Rom., 3:24 e 25; l Cor, 1:30; ll Cor, 5:17)” (Ponto de Doutrina n. 5). Dizer que os nossos ‘diferenciais’ (véu, ósculo santo, igreja sem dízimo e nominadamente sem o título de pastor) são ‘complementos’ necessários à salvação ou que são identificadores da verdadeira igreja é um erro grotesco. O magistério da igreja falha nessa parte ao não ensinar corretamente para a irmandade nossas próprias doutrinas. Porém – e esse adendo é necessário – há muitas ‘teologias populares’ que estão em desacordo com as ‘teologias oficiais’ professadas pelas denominações.

Para concluir…

Não é possível, dado o aspecto limitado do blog, analisar mais detidamente o livro. Creio, entretanto, que consegui fornecer um painel geral das idéias ali contidas. Como um ser humano limitado, imperfeito e pecador que sou, com pouco conhecimento mas muito desejo de adquiri-lo mais e mais, é bem possível que, nesse conjunto de textos, tenha cometido um ou outro equívoco. Conto com o auxílio dos leitores. Constatando o erro, retifico com as devidas explicações. Para os futuros leitores, dois avisos: se não frequenta a CCB, pouco dela conhecerá lendo esse livro. Se a frequenta, não perca seu tempo: torça apenas por aparecer melhores leituras sobre nossa denominação no mercado editorial.